Origem da Ikebana

nao mitashi / hana ni ake yuku / kami no kao”
( quero ainda ver / nas flores ao amanhecer / a face de um deus )
 Matsuo Bashō ( 松尾 芭蕉 ), poeta do período Edo, 1644 – 1694

Contemplar a natureza, apreciar as flores e usá-las como oferenda ou elemento de decoração é parte da cultura dos mais diversos povos ao redor do Mundo, mas ganhou contornos especiais ao caracterizar um importante aspecto da cultura tradicional japonesa.

As raízes da arte das oferendas florais remetem à Índia de Siddhartha Gautama, o príncipe que seria chamado de Supremo Budha ao alcançar a iluminação. Na doutrina budista, flores estiveram, desde o princípio, profundamente relacionadas com seus ensinamentos.

"Se pudéssemos ver com clareza o milagre de uma única flor, toda a nossa vida mudaria."
Interpretação livre dos ensinamentos de Buda

Segundo a tradição, no ano de 607, Ono-no-Imoko fora enviado à China como embaixador do Japão e lá adquiriu grande bagagem cultural e tomou contato com os fundamentos do Budismo, tornando-se mestre na doutrina de Budha e na arte da queima dos incensos e das oferendas florais.

Após retornar ao Japão, Ono-no-Imoko tornou-se monge adotando o nome monástico de Senmu Ikenobo. Oferecia flores, incensos e acendia velas em reverência à Buda e à memória de seus antepassados e transmitia a outros monges os fundamentos aprendidos do Budismo e a prática das oferendas em altares.

No Templo Rokkakudo (o Templo Hexagonal) sucessivas gerações de monges que ali viveram passaram também a adotar Ikenobo como sobrenome. Esses monges ficaram famosos por sua habilidade em arranjar flores. Considera-se o Templo Rokkakudo, em Kyoto, como berço da Ikebana como conhecemos hoje.

Já nos registros históricos do século XV, o nome do monge Senkei Ikenobo aparece como “mestre dos arranjos florais”, considerado como um dos arranjadores de flores mais populares da época.

Com a expansão do Budismo no Japão, o costume de arranjar flores com carinho e ornamentar altares com arranjos florais tornou-se mais e mais popular e foi a partir dessa origem que o significado do termo Ikenobō ( 池坊 ) chegou aos nossos dias sendo usado tanto como “origem da ikebana” como para designar a mais tradicional escola de arte da ikebana.

As primeiras referências a “hastes de flores delicadamente arranjadas em vasos” aparecem nos registros poéticos dos Séculos VIII e IX na mais antiga coletânea da poesia japonesa, Man’yōshū ( 万葉集 ), “Coleção das Dez Mil Folhas“*, compilada no período Nara por volta de 759 d.C.


História da Ikebana – Kaō irai no Kadenshō ©Ikenobo

No mais antigo manuscrito japonês sobre Ikebana, datado de 1486 e denominado Kaō irai no Kadenshō ( 花王以来の花伝書 ), “A biografia das flores desde Kao“, autor desconhecido, registrou em desenhos e textos 47 tipos de arranjos florais, relacionando materiais e modos de exibição. Junto com o manuscrito de Senno Ikenobō, denominado “Senno Kuden“, datado de 1542, esses manuscritos estabeleceram a prática da Ikebana como filosofia e como arte.

Nesse mesmo período, a arte floral japonesa começou a estruturar-se como academia artística com títulos, graus, licenças e certificados.

Criar Ikebana é trilhar o Kadō*, o caminho das flores.

*Vide Biblioteca do Site